Clara me olhava tímida. Clarinha nunca foi do tipo que ouvia um A sobre minhas noites em claro sem ficar horrorizada ou dizer uns 'Ai, meu Deus' ao longo das narrativas. Coitada da Clara. Estava dizendo a ela que hoje fui ao cinema. Éramos apenas dois: eu e um cara lá ao fundo. Coisas de hora de almoço.
Contei a ela que nunca me sentira tão tentada a sentar ao lado de alguém. E aí, quando ela me respondeu com aquele "Para...?", me perguntei o que diabos fazia andando com aquela garota.
Meu Deus, Clara, se há um lugar cheio de cadeiras vagas e vem alguém querendo sentar logo ao SEU lado, o que você pensa?
Ela até fez menção de abrir a boca depois de um tempo, mas não a deixei falar qualquer coisa. Tinha receio de sair barbaridades dali, perder a paciência e nunca mais a olhar outra vez. Então completei com o seguinte: pode ter certeza: ou é assalto ou ele vai chegar em você!
Clarinha fez cara de surpresa, como quem diz "oh-agora-tudo-faz-sentido" e me mandou prosseguir, mas eu disse que era aquilo. E ela me olhou perplexa, indagou como tive coragem de deixar a coisa por aquilo mesmo. Ué, deixei e pronto -- respondi com simplicidade.
Ela soltou a respiração de forma audível; intorelante, diria. Formou uma concha com as mãos e começou: lembrou-me que aquilo foi o cúmulo do descaso, que'u virara as costas para o próprio destino. Filosofou que negar-se a viver era o mesmo que não querer viver e que era pecado negar a vida; mas, acima de tudo, uma coisa era evitar aproximações com quem passa ao seu lado, por alguns segundos, outra era evitar por cada segundo das duas horas de filme. Olhou-me seriamente, exclamou um "Francamente!", levantou-se sem que eu pudesse falar qualquer coisa.
É, às vezes até as Clarinhas surpreendem.
25.3.11
19.
27.2.11
18.
26.2.11
17.
entre esquina e outra
as quadras avanço
de lugar vagamente conhecido
um mapa desenho
a lua, lá em cima, é meu norte
ora aprendo a caminhar
ora aprendo é a me esquivar
os costumes não são os mesmos
as pessoas, tampouco
ainda que haja algo de comum naquilo que me atrai
sem casa, sem rumo
sem porquês,
aprendo para onde chegar
aonde pisar
até que o caminho de volta
eu possa encontrar.
1.2.11
16.
se tenho pena de alguém, é do amante
que de todos, me parece o mais distante
se de forma boa, não sei
há o bom do antes, do agora e durante
se tem o amante um único temor
diria sem dúvida,
na segurança de quem observa,
que sentir falta é seu horror.
se antes a vida romântica
lhe servia de gasolina para o sarcasmo
surpreendeu-se a rolar de canto a canto
entre o tormento de uma dúvida
e no delirar de uma fantasia
se há tortura
é pensar nos breves encontros, às escondidas
que terminam assim, de repente
sem a chance de uma despedida.
se há raiva, se há silêncio
o amante aguarda
os próprios cabelos, acaricia
e imagina
que digas te amo no fim do dia.
10.12.10
12.
All the stars comes close together
and looks like they're talkin':
"who's that one?"
No one seems to care
about the one who's out there
standing so close -- yet so far
If you were the lonely star
out there, in the great sky
I wouldn't be the one to cry
Oh, no
Right down here,
I'd probably get blind --
but my eyes you'd find.
No star is lonely if there's someone to look after
And when the sun shines right there from above
I'll know: I made it worth.