8.11.13

30.

E aí que eu tava no ponto de ônibus quando vejo a figura agachada no chão acendendo um cigarro. Como o cigarro aparentava estar limpo, sem dobras e nenhum amassado, assumi que ela tinha tirado da bolsa.

Aí tá, voltei a olhar para a rua quando vi que a figura estava perto da lata de lixo bebendo champagne direto do gargalo, agregando muito valor ao ponto de ônibus.

Até que um ônibus para o Méier parou, o que a fez apressar os goles da champagne para que, então, embarcasse e fosse embora — seja lá para onde for.

3.6.13

27.

Não há palavra que não seja invejosa do número. 
Palavra... é muito e o outro, absoluto. 
As letras se juntam para formar o tempo: 
se sentem confusas no presente 
- perdidas no rumo incerto do falar, 
mas se transformam ao cantar. 
Se distraem colocando agudos no futuro, 
embora o pretérito perfeito
tenham cismado em criar. 
Resgatam passado como peixe do mar 
- um que (eu posso!) acabei de inventar. 
A palavra se vê risível, verdade; 
mas sofre, às vezes, inaudível. 
Se vê em outros tempos, outros momentos. 
Impossível não lamentar. 
A palavra, muitas vezes jogada, 
nem sempre sentida, 
teme em se perder no tempo 
- não mais quista. 
Quem escreve nem sabe o que está falando, 
mas, na construção contínua do tempo, 
dói a saudade do ainda presente 
(sem enlouquecer)
em uma verdade clara 
e certeza recorrente: 
de você, eu jamais irei esquecer.