São memórias de outra vida, algo bastante alternativo. Ninguém fala sobre crescer. Não nos dizem sobre essas experiências nas longas palestras e grossas apostilas sobre produtos lícitos/ilícitos. E é numa hora dessas que eu gostaria de ter optado por Psicologia ou Medicina. Ainda mais cedo estava falando sobre isso...
Uma simpatia anormal, uma discussão que tirou o sono da garota cheia de opiniões políticas que de repente se tornou. Um amor crescente e a vontade de nunca mais deixar, flertes frustrados e paixões de minutos. Declarações abertas e risadas à solta.
Essas imagens são verdadeiras? O muro está tão baixo e o corpo tão trêmulo, será que poderia me jogar daqui? Penso no que pensariam. Penso no que nunca pensei.
28.8.10
3.
26.8.10
2.
Há algo de poético sobre escrever ao ar livre. O vento, as pessoas passando, o sol batendo livremente. Tirar o ambiente virtual do frio, escuro e fechado que geralmente o acompanha é uma sensação inexplicável de liberdade. Dá até para pensar que o mundo é um lugar muito melhor. Há muito de poético nisso.
Mas não há nada, nada mesmo, de poético sobre a barata que está se aproximando...
22.8.10
1.
Em Abril teve a tal greve de ônibus aqui no Rio. Só que eu, desavisada no início da manhã, parti pro ponto faltando meia hora para o início da minha prova. Cheguei lá e o lugar estava lotado de gente ― todos desavisados. No meio daquela coisa toda, acabei descobrindo uma menina que estudava no meu campus e ela me disse, apavorada, que já estava ali há mais de uma hora. Achei doidera alguém ficar esperando por um ônibus aquele tempo todo, mas enfim… Deus sabe o que faz.
E ai estava quase indo embora quando um fura-greve chegou, dirigindo com certa dificuldade aquele veículo abarrotado, cuspindo gente pela janela. A garota, que estava com um terço na mão, me convenceu a tentar pedir para a professora aplicar a prova pra mim. Deixamos o povão entrar e conseguimos ficar num nível remotamente parecido com o conforto antes da roleta.
Não deu dez minutos e eu já estava lembrando desse pouco conforto como uma época de ouro. De repente tinham umas quinze pessoas naquele espacinho e uma única janela soprando pouco vento. Lá pelas tantas, três senhoras nanicas entraram e se enfiaram entre a gente, como um carro compacto numa vaga apertada. Uma delas gritou, juro, como um brado de guerra: “EU VOU CHEGAR AO INCA!”
Como não poderia ser diferente, esta resolveu ficar ao meu lado e tossia de tempos em tempos. Aquilo estava me dando nervoso. Aquele bando de gente, o calor, a falta de vento, a mulher tossindo… Fiquei seriamente enjoada e ao invés do cara dirigir sem medo de ser feliz, não! Resolveu parar no ponto seguinte, mas a passageira não conseguiu entrar. Agarrada às barras do ônibus, ela impedia que o motorista arrancasse. Ficou naquele desce, não desce que não terminava até que uma menina berrou lá do fundo: “PUXA ELA PELAS PERNAS!”
E no meio disso tudo, vira a tal garota de terço na mão e me pergunta: “Qual é o seu Orkut?”
INCA: Instituto Nacional de Câncer