20.11.10

11.

Aquela velhinha com seu guarda-chuva numa mão,
um sacola pesada na outra, as costas, tão corcundas,
lhe faziam quase beijar o chão.

No mesmo chão que o mendigo estendido, negro na
pele e na sujeira, coberto com poucos papelões, deixava
à mostra a palma da mão.

A mesma mão que um dia suportou o peso, que
chegou a estudar, que brincou, que acariciou um o rosto
de pele macia, lhe transmitindo paz ao coração.

Coração aquele que batia pesado ao caminhar à
sua volta, ao desespero que o abatia junto a crueldade
envolvida. Chorou, fez o Sinal da Cruz e implorou para
que alguém lhe tomasse conta.

A mão estendida não pedia pela moeda que nela
caiu. Os olhos enxergavam com certa dificuldade os
passos rápidos que levavam companhia para longe dali.

Não valia se mover. É o final que deixa em
evidência as carências, a escuridão da noite envolvia
os desamparados e a chuva camuflava o choro.

Enquanto o céu ecoava o som dos muxoxos
enviados por Deus.

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