28.9.11
26.
9.9.11
24.
No táxi que me trouxe até aqui, Fionna Apple me dava razão...
Uma vez vieram reclamar comigo sobre a condição de ser humano. Não sobre as diferenças, a pobreza, o preconceito; mas sobre o simples fato de ter que viver, ter que comer e beber para sobreviver e a escravidão em torno de algo que nem é desejado. À época pensei que fosse loucura, ainda mais vindo de quem vinha, mas à época eu era diferente. Via a vida de modo diferente e até a vivia de forma diferente. Todos éramos diferentes, com uma ou outra exceção onde não percebi mudança.
Hoje percebo o que quis dizer. A condição de vida é algo tão escravista que chega a dar pena. Às vezes olho ao meu redor e tenho até vontade de saber de uma ou outra história de alguém que está sentado ao longe conversando com um grupo de amigos. Juro que tenho, tenho esse perchant por histórias. Ao mesmo tempo que me cansa o fato, não físico, de ter que sair de onde estou e ir lá. Temo que será a mesma coisa e a mesma coisa termina na mesma escravidão. Somos escravos de sentimentos, de comida, de bebida, somos escravos do dinheiro e do trabalho, somos escravos daquilo que os outros querem que sejamos, somos escravos até de nós mesmos - talvez, principalmente, de nós mesmos.
Não culpo o bêbado por sua condição.
20.5.11
22.
os menores dizem que sentem dor
os poetas falam em corações
- partidos, estraçalhados.
eu não cria que seria possível
mas dele, só tenho alguns pedaços,
cada qual firme em minha mão
enquanto algo em mim borbulha --
será crime? será tortura?
não, não, é uma certa angústia
daquela que não importou a luta,
pois sabe que irá perder.
fugir, calar-se, sumir
deixar a coisa passar, é melhor partir
planos válidos só para quem nunca sentiu a alegria
em um abraço.
e eu, que nunca acreditei no dito egoísmo bom,
digo: impossível agora não entendê-lo
aproveito e defendo: é desprezível desejar a outrem
uma vida sem lamentos?
se pondero, acabo por desistir.
que a vida tome seu próprio rumo
e faça dela o que bem quiser
enquanto eu daqui me sento em pleno breu
aguardo, talvez em vão, por quem lhe falo
e trato de remendar os pedaços
desse troço, desse troço chamado coração.
7.5.11
21.
who is this?
(who is this?)
that makes my heart
beat this heavily
and fast?
where's my breath
going to?
who is this?
(who is this?)
that doesn't give me
a clue about
what to think?
who is this?
(who is this?)
that carries
my sleep away,
that doesn't
allow me to dream
who is this?
(who is this?)
someone I'll never
touch or something
I'll never have
WHO
IS
THIS?
something so deep
so mine, so incisive
so intimately
distant
who is this?
(who is this?)
oh, this unnamed feeling of mine...
go on!
and say goodbye.
5.4.11
20.
Quando acordei, o céu representava minha própria imagem e semelhança do dia anterior. Estava fresco e um cinza-nublado cobria tudo. Meus olhos doeram ao me enxergar e quis voltar desesperadamente a adormecer. Tinha tido um sonho bom.
Quando entrei no ônibus, no céu representava tudo aquilo que, definitivamente, eu não estava sendo: figurava imponente lá em cima, o sol, todo cheio de si. Não sendo egoísta, lançava raios sob nossas cabeças ― em uma atitude agressiva ao meu ver parcialmente tampado pela minha mão.
Não havia trânsito, tudo permanecia parado, carro depois de carro. Os veículos de maior porte fechavam cruzamentos e os menores estavam tão juntos que bastava um espirro para uma colisão. Claro que não podiam deixar isso de lado, as pessoas gritavam entre si e pouco faltava para um estapear o outro. Nem eram oito da manhã.
Nisso uma velhinha pediu para se sentar ao meu lado ― a essa altura já tinha feito do banco vazio a minha escrivaninha. Puxei tudo para meu colo e lhe dei espaço. Começamos um papo que certamente valeu bem mais que o dia inteiro que tive na faculdade, quiçá outros dias.
Crianças e velhos possuem em si características semelhantes mesmo com o longo período que os separam. As crianças são sapientes dentro de sua simplicidade e sinceridade ao ver o mundo e as pessoas, não estão presas a pré-conceitos, receios ou qualquer coisa que os prenda a uma conclusão medíocre. Já os velhos, esses já viram muito, passaram por mudanças extraordinárias, o tédio estava presente em romances de biblioteca apenas. O rosto enrugado e os olhos brilhantes, quase sempre com aquele aspecto úmido, marcam território no campo da experiência e sabedoria.
Ao indagarmos sobre o trânsito, ela me disse que aquilo ''não é progresso, minha filha, é atraso''. Chamou minha atenção quanto a construção de novos prédios e suas características. Falamos sobre o excesso de carros nas ruas e concordamos quanto às facilidades de crédito. Sobre isso filosofou que "quem gasta mais do que ganha, é ladrão de si mesmo". Pura verdade. E completou: "Eu, eu vivo como posso".
Ela estava voltando para perto de onde eu estava indo. Então, veja bem, eu, que não queria enxergar o cinza e evitava o brilho do sol a qualquer custo, me senti incrivelmente patética e pecadora diante dela ― que não se importou com cinzas ou brilhos, se arrumou no seu vestido branco com flores rosas e seguiu a própria vida por si.
25.3.11
19.
Clara me olhava tímida. Clarinha nunca foi do tipo que ouvia um A sobre minhas noites em claro sem ficar horrorizada ou dizer uns 'Ai, meu Deus' ao longo das narrativas. Coitada da Clara. Estava dizendo a ela que hoje fui ao cinema. Éramos apenas dois: eu e um cara lá ao fundo. Coisas de hora de almoço.
Contei a ela que nunca me sentira tão tentada a sentar ao lado de alguém. E aí, quando ela me respondeu com aquele "Para...?", me perguntei o que diabos fazia andando com aquela garota.
Meu Deus, Clara, se há um lugar cheio de cadeiras vagas e vem alguém querendo sentar logo ao SEU lado, o que você pensa?
Ela até fez menção de abrir a boca depois de um tempo, mas não a deixei falar qualquer coisa. Tinha receio de sair barbaridades dali, perder a paciência e nunca mais a olhar outra vez. Então completei com o seguinte: pode ter certeza: ou é assalto ou ele vai chegar em você!
Clarinha fez cara de surpresa, como quem diz "oh-agora-tudo-faz-sentido" e me mandou prosseguir, mas eu disse que era aquilo. E ela me olhou perplexa, indagou como tive coragem de deixar a coisa por aquilo mesmo. Ué, deixei e pronto -- respondi com simplicidade.
Ela soltou a respiração de forma audível; intorelante, diria. Formou uma concha com as mãos e começou: lembrou-me que aquilo foi o cúmulo do descaso, que'u virara as costas para o próprio destino. Filosofou que negar-se a viver era o mesmo que não querer viver e que era pecado negar a vida; mas, acima de tudo, uma coisa era evitar aproximações com quem passa ao seu lado, por alguns segundos, outra era evitar por cada segundo das duas horas de filme. Olhou-me seriamente, exclamou um "Francamente!", levantou-se sem que eu pudesse falar qualquer coisa.
É, às vezes até as Clarinhas surpreendem.
27.2.11
18.
26.2.11
17.
entre esquina e outra
as quadras avanço
de lugar vagamente conhecido
um mapa desenho
a lua, lá em cima, é meu norte
ora aprendo a caminhar
ora aprendo é a me esquivar
os costumes não são os mesmos
as pessoas, tampouco
ainda que haja algo de comum naquilo que me atrai
sem casa, sem rumo
sem porquês,
aprendo para onde chegar
aonde pisar
até que o caminho de volta
eu possa encontrar.
1.2.11
16.
se tenho pena de alguém, é do amante
que de todos, me parece o mais distante
se de forma boa, não sei
há o bom do antes, do agora e durante
se tem o amante um único temor
diria sem dúvida,
na segurança de quem observa,
que sentir falta é seu horror.
se antes a vida romântica
lhe servia de gasolina para o sarcasmo
surpreendeu-se a rolar de canto a canto
entre o tormento de uma dúvida
e no delirar de uma fantasia
se há tortura
é pensar nos breves encontros, às escondidas
que terminam assim, de repente
sem a chance de uma despedida.
se há raiva, se há silêncio
o amante aguarda
os próprios cabelos, acaricia
e imagina
que digas te amo no fim do dia.