E aí que eu tava no ponto de ônibus quando vejo a figura agachada no chão acendendo um cigarro. Como o cigarro aparentava estar limpo, sem dobras e nenhum amassado, assumi que ela tinha tirado da bolsa.
Aí tá, voltei a olhar para a rua quando vi que a figura estava perto da lata de lixo bebendo champagne direto do gargalo, agregando muito valor ao ponto de ônibus.
Até que um ônibus para o Méier parou, o que a fez apressar os goles da champagne para que, então, embarcasse e fosse embora — seja lá para onde for.
8.11.13
30.
3.6.13
27.
Não há palavra que não seja invejosa do número.
Palavra... é muito e o outro, absoluto.
As letras se juntam para formar o tempo:
se sentem confusas no presente
- perdidas no rumo incerto do falar,
mas se transformam ao cantar.
Se distraem colocando agudos no futuro,
embora o pretérito perfeito
tenham cismado em criar.
Resgatam passado como peixe do mar
- um que (eu posso!) acabei de inventar.
A palavra se vê risível, verdade;
mas sofre, às vezes, inaudível.
Se vê em outros tempos, outros momentos.
Impossível não lamentar.
A palavra, muitas vezes jogada,
nem sempre sentida,
teme em se perder no tempo
- não mais quista.
Quem escreve nem sabe o que está falando,
mas, na construção contínua do tempo,
dói a saudade do ainda presente
(sem enlouquecer)
em uma verdade clara
e certeza recorrente:
de você, eu jamais irei esquecer.
28.9.11
26.
9.9.11
24.
No táxi que me trouxe até aqui, Fionna Apple me dava razão...
Uma vez vieram reclamar comigo sobre a condição de ser humano. Não sobre as diferenças, a pobreza, o preconceito; mas sobre o simples fato de ter que viver, ter que comer e beber para sobreviver e a escravidão em torno de algo que nem é desejado. À época pensei que fosse loucura, ainda mais vindo de quem vinha, mas à época eu era diferente. Via a vida de modo diferente e até a vivia de forma diferente. Todos éramos diferentes, com uma ou outra exceção onde não percebi mudança.
Hoje percebo o que quis dizer. A condição de vida é algo tão escravista que chega a dar pena. Às vezes olho ao meu redor e tenho até vontade de saber de uma ou outra história de alguém que está sentado ao longe conversando com um grupo de amigos. Juro que tenho, tenho esse perchant por histórias. Ao mesmo tempo que me cansa o fato, não físico, de ter que sair de onde estou e ir lá. Temo que será a mesma coisa e a mesma coisa termina na mesma escravidão. Somos escravos de sentimentos, de comida, de bebida, somos escravos do dinheiro e do trabalho, somos escravos daquilo que os outros querem que sejamos, somos escravos até de nós mesmos - talvez, principalmente, de nós mesmos.
Não culpo o bêbado por sua condição.
20.5.11
22.
os menores dizem que sentem dor
os poetas falam em corações
- partidos, estraçalhados.
eu não cria que seria possível
mas dele, só tenho alguns pedaços,
cada qual firme em minha mão
enquanto algo em mim borbulha --
será crime? será tortura?
não, não, é uma certa angústia
daquela que não importou a luta,
pois sabe que irá perder.
fugir, calar-se, sumir
deixar a coisa passar, é melhor partir
planos válidos só para quem nunca sentiu a alegria
em um abraço.
e eu, que nunca acreditei no dito egoísmo bom,
digo: impossível agora não entendê-lo
aproveito e defendo: é desprezível desejar a outrem
uma vida sem lamentos?
se pondero, acabo por desistir.
que a vida tome seu próprio rumo
e faça dela o que bem quiser
enquanto eu daqui me sento em pleno breu
aguardo, talvez em vão, por quem lhe falo
e trato de remendar os pedaços
desse troço, desse troço chamado coração.